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Coordenadora do Elsa-Brasil no RS apresenta dados sobre diabetes e hiperglicemia


15/12/2015

Por: Renata Augusta / Portal Fiocruz

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Na faixa etária dos 35 aos 74 anos, num universo de 15.105 pessoas, dois terços já têm obesidade ou sobrepeso, 1/5 está com diabetes e 1/3 com hipertensão. Esses resultados são do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil). A pesquisa preenche uma lacuna frequente em países com alta incidência de doenças crônicas, como o diabetes tipo 2 ou mellitus, e o Elsa-Brasil divulga uma informação indisponível na maioria desses países: a prevalência do diabetes e da hiperglicemia intermediária na população.

Seis centros públicos de pesquisa realizam o estudo: Fiocruz, USP, UFBA, UFRGS, UFES e UFMG. O Portal Fiocruz convidou para abordar a pesquisa a professora Maria Inês Schmidt, coordenadora do Centro de investigação Elsa do Rio Grande do Sul e professora associada da UFRGS.

Quais são os principais resultados do Elsa-Brasil, até o momento, relativos ao diabetes?

As prevalências de diabetes (19,7%) e de hiperglicemia intermediária (50%) foram elevadas. A prevalência de alterações (diabetes e estágios intermediários) é elevada mesmo nas faixas etárias mais baixas (58%), e aumenta consideravelmente com o avanço da idade, ultrapassando 90% na faixa etária mais velha. As prevalências foram mais altas em pessoas de menor escolaridade e de raça/cor negra. Digno de nota, em participantes mais velhos (65-74 anos), de raça/cor negra ou de menor escolaridade, a prevalência de diabetes é superior a 30%. Sobre a definição (os entrevistados preenchem formulários detalhados), incluiu também três medidas laboratoriais: glicemia de jejum e de 2h em teste de tolerância à glicose, e hemoglobina glicada. Os estágios intermediários foram definidos a partir das medidas laboratoriais. 

O que o Elsa-Brasil tem de diferencial em relação às pesquisas sobre o diabetes realizadas no país?

Quando definições de doença envolvem medições mais complexas que dificultam sua realização em inquéritos populacionais clássicos, o Elsa-Brasil pode agregar informação relevante, como é o caso do diabetes e seus estágios intermediários. Dados recentes da prevalência do diabetes no Brasil pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – de 6,2% a 6,5% nas capitais – e pelo VIGITEL-2013 (6,9% nas capitais) – referem-se a pessoas com 18 anos ou mais, e, dessa forma, necessariamente, terão frequências de diabetes mais baixas que as do Elsa-Brasil (19,7% em pessoas com 35-74 anos). A expressiva diferença resulta da definição de diabetes: os inquéritos populacionais referem-se apenas aos casos de diabetes previamente conhecidos, ao passo que no estudo Elsa-Brasil foram computados todos os casos. O Elsa-Brasil estimou que cerca da metade dos casos detectados no Elsa não tinha diagnóstico prévio de diabetes.

Em que esses resultados podem contribuir para a prevenção dessa enfermidade, o avanço dos estudos e novos tratamentos? 

Considerando o aumento epidêmico da obesidade no Brasil nas últimas décadas, esses dados do Elsa mostram que a exposição da população brasileira aos fatores obesogênicos (alimentação inadequada e baixa atividade física) nas últimas décadas está agora se manifestando em plena força nos níveis glicêmicos da população. A grande fração dos participantes do Elsa-Brasil que apresentam alterações da glicemia (diabetes ou estágios intermediários) ilustra que a solução do problema (atualmente em proporções epidêmicas) deve estar mais na esfera da saúde pública (prevenção populacional) do que na esfera clínica (prevenção clínica e tratamento).

Gostaria de fazer alguma consideração final?

A reversão desse quadro preocupante sobre obesidade e diabetes é uma das grandes prioridades no enfrentamento da epidemia das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). Para tanto, as estratégias de enfrentamento precisam criar condições que facilitem a incorporação de hábitos de vida saudáveis (alimentação adequada e hábitos ativos de vida). A Estratégia de Enfrentamento das DCNTs no Brasil prioriza essas ações. Contudo, a sociedade precisa assumir um papel mais protagonista, visto que é ela, mais do que seus indivíduos, quem irá efetuar as mudanças pretendidas.

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