Flores, sorrisos, animais de estimação, emblemas de time, heróis.... Descontraídas ou sóbrias, as máscaras de uso não profissional, também batizadas de ‘caseiras’, mudaram feições e paisagens urbanas mundo afora. O recurso tem simbolizado um forte senso de coletividade em relação à pandemia de Covid-19, mas ainda se multiplicam erros que comprometem sua eficácia.
Diversos fatores contribuem para o uso falho, como notícias falsas, informações confusas ou incompletas e falta de clareza sobre a importância desse item que já se incorporou ao vestuário de milhões de pessoas.
Dezenas de países começaram a recomendar máscaras caseiras, porque o vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, não é transmitido apenas por quem apresenta sintomas claros da doença. Existe uma forma de transmissão silenciosa. Muita gente não faz ideia de estar infectada, mas pode passar o vírus adiante: pessoas que estão no período anterior à manifestação dos sintomas (pré-sintomáticas), quem não desenvolve sintomas (assintomáticas) e quem tem sintomas tão leves ou raros que a doença fica despercebida.
No entanto, nem todos sabem como usar as máscaras corretamente. Veja algumas recomendações compiladas a partir das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, do Portal Fiocruz e de sites das unidades da instituição.
Máscara como proteção e não como enfeite
Falta de hábito, cansaço com os meses de pandemia e dicas errôneas explicam parte dos descuidos com a máscara caseira. Mesmo pessoas preocupadas com a saúde escorregam em falhas que podem custar a vida de alguém. Não raro vemos grupos nos quais apenas uma ou algumas pessoas usam a proteção. Desse modo, o risco de contaminação aumenta.
Alguns campeões na lista de erros cometidos a cada esquina: máscara no pescoço; pendurada na orelha; abaixo do nariz (ou cobrindo só a ponta); deixando o queixo descoberto; e posta em qualquer lugar. Por que não fazer nada disso? É que nesses casos, as gotículas com o vírus podem ser absorvidas pela boca, nariz ou olhos, diretamente, ou após encostar em áreas contaminadas e não higienizar as mãos. Ao recolocar a máscara, será grande a chance de contágio. Mas esses problemas têm solução mais rápida e simples quando se descobre as causas.
Máscara ajustada, seca e de materiais adequados é mais confortável
A máscara precisa cobrir todo o nariz e o queixo, sem ficar frouxa nos lados. Se estiver caindo, provavelmente os elásticos ou as tiras não estão conseguindo prendê-la. Tente ajustá-los antes de sair de casa, mas se o problema continuar, substitua a máscara, que precisa ter um tamanho adequado ao rosto. As máscaras de crianças também devem ser proporcionais.
Quando uma pessoa não aguenta permanecer com a máscara, vale observar causas prováveis. Materiais impróprios podem atrapalhar muito a respiração ou esquentar demais o rosto. Você deve verificar se estão de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa (veja os links a seguir).
Outra razão que leva muita gente a tirar a máscara é o desconforto por estarem úmidas. Este é o sinal para trocá-la imediatamente, porque se estiver assim perde a eficácia. Também substitua a máscara a cada duas horas, mesmo que esteja seca. Por isso o Ministério da Saúde recomenda que se tenha ao menos cinco máscaras, para que não falte proteção se você ficar muito tempo na rua. E saia com saquinhos bem diferentes para guardar máscaras limpas e sujas.
Mais dicas importantes
A higienização das mãos é o primeiro passo antes de vestir a máscara (de uso individual). E ao colocar os pés fora de casa, nada de tocá-la. É só lembrar que ela pode estar contaminada. Caso se esqueça e toque a máscara, higienize as mãos de novo. Se for mesmo preciso fazer um ajuste, ajeite-a apenas pelo elástico ou tira. Também é por meio deles que se deve substituir a máscara quando estiver em local público e ao chegar em casa (sempre com as mãos limpas).
Lave a máscara separadamente de roupas e outros itens. Limpe em água corrente com sabão neutro; deixe de molho por trinta minutos numa solução feita com um litro de água e duas colheres de sopa de água sanitária; enxague sem torcer com força e coloque para secar; passe com ferro quente; guarde em recipiente fechado. Descarte quando completarem 30 lavagens ou se tiver danos.
Recomendação de uso ampliado de máscaras caseiras no Brasil
No Brasil, o Ministério da Saúde declarou que a máscara caseira poderia ser uma aliada no combate à propagação do novo coronavírus em abril. No dia 26 de agosto, em seu site sobre a Covid-19 [1], consta a indicação de uso dessas máscaras em todos os ambientes: “As máscaras de tecido (caseiras/artesanais) não são Equipamentos de Proteção Individual (EPI), mas podem funcionar como uma barreira física, em especial contra a saída de gotículas potencialmente contaminadas”. A pasta também divulga informações sobre a pandemia em outros canais, como as mídias sociais, o Disque Saúde (136) e o WhatsApp (61) 9938-0031.
Maior instituição de pesquisa biomédica da América Latina e vinculada ao Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reitera a recomendação do Ministério sobre o uso de máscaras caseiras em larga escala, tendo como base a proteção coletiva. Ambos destacam que a medida deve ser associada a recomendações como distanciar-se de outra pessoa em pelo menos um metro; lavar com frequência as mãos (até a altura dos punhos) ou higienizá-las com álcool a 70% (gel ou líquido); evitar abraços, beijos e apertos de mão; não compartilhar objetos de uso pessoal; evitar aglomerações e deixar ambientes ventilados.
Algumas instruções técnicas para confecção e uso correto de máscaras caseiras estão disponíveis no site do Ministério da Saúde (Página ‘Sobre a doença’ [2]) em documento elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Orientações gerais – Máscaras faciais de uso não profissional [3]).
Dentre as recomendações constam o público que não deve usá-las: profissionais de saúde durante a atuação; pacientes contaminados ou suspeitos (com sintomas); e pessoas que cuidam de pacientes contaminados (devem usar máscaras profissionais); crianças menores de dois anos; pessoas impossibilitadas de remover a máscara sem assistência e quem tiver contraindicação médica.
A Organização Mundial da Saúde também elaborou orientações sobre a confecção e o uso de máscaras caseiras [4].
O Portal Fiocruz aglutina informações qualificadas sobre a pandemia
A Fiocruz, que completou 120 anos de história, atua de forma integrada em múltiplas frentes no enfrentamento à pandemia. O trabalho inclui sua tradição na ampliação da divulgação e promoção do conhecimento científico.
A área especial sobre Covid-19 no Portal Fiocruz [5], que tem atualização diária, aglutina informações sobre os esforços da instituição nesse desafio humanitário global e aborda temas como prevenção, vacina, pesquisa, testagem e diagnóstico, entre outros, em áreas específicas para facilitar a consulta. As máscaras caseiras, por exemplo, são abordadas em páginas como Perguntas e Respostas, Materiais para Download, Vídeos e Notícias.
Para ampliar a garantia de orientações à população sobre a pandemia, a Fundação tem implementado recursos de acessibilidade em seus vídeos, a partir de uma iniciativa do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência. Na área Vídeos [6] do site especial, basta clicar no botão ‘Listar apenas vídeos com recursos de acessibilidade’.
Como defensora de práticas democráticas, a Fiocruz tem a população como parceira ativa em múltiplas ações relacionadas à pandemia, como na campanha ‘Se liga no Corona! [7]’ e no Selo ‘Fiocruz tá junto’ [8] (consulte a área Populações Vulneráveis [9]). Diversas iniciativas da Fundação financiam ações da sociedade, como o projeto Fiocruz contra a Covid-19 [10]. A Associação Indígena Krãnhmenti, localizada no Pará, foi uma das contempladas na chamada pública [11] e vai empregar os recursos recebidos na produção e distribuição de máscaras, junto com cestas básicas, a famílias da etnia kayapó e numa campanha sobre a pandemia.
Especialista explica importância da máscara caseira
Os cientistas estão descobrindo uma série de fatores relacionados a Covid-19, mas já se sabe que a transmissão ocorre por contato com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro e tosse. Por essa razão, as autoridades sanitárias recomendam que se evite contatos pessoais (como o aperto de mão) e também com objetos ou superfícies, seguidos de toque no nariz, olhos e na boca.
A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), referência da Organização Mundial da Saúde para Covid-19 nas Américas, explicou a relação entre transmissão e medidas protetivas em entrevista ao Canal Saúde na série de podcasts CoronaFatos. [12] Marilda Siqueira enfatizou que se trata de responsabilidade social usar máscara caseira, afinal, qualquer um de nós pode transmitir o vírus, mesmo sem sintomas, e também disse que a medida colabora para a autoproteção:
“Se não tomarmos os cuidados necessários como o distanciamento social, o uso de máscaras, vamos nos infectar, porque se a gente está dentro de um ônibus, num restaurante, numa fila de banco, de supermercado, onde estivermos, não sabemos se quem está do nosso lado está infectado ou não, e o quanto de partícula, de vírus, esta pessoa está transmitindo naquele momento. Então, a melhor maneira de nos prevenirmos é evitarmos um contato próximo com as pessoas, usarmos sempre máscaras e lavarmos as mãos com frequência.”
Como se trata de uma doença recente, a cada momento são feitas descobertas. Por isso é importante buscar informações atualizadas e checar as datas de conteúdos já publicados. Sugerimos fontes qualificadas, como as citadas nesta reportagem e também a página sobre Covid-19 do site brasileiro da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) [13], escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas.