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AstraZeneca/Fiocruz confere alta proteção em idosos contra a Gama

28/10/2021

Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)

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Um novo estudo publicado na revista científica Nature Communications nesta quinta-feira (28/11) mostra que duas doses da vacina AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz, conferem uma alta proteção contra a variante Gama em pessoas acima dos 60 anos. Tendo como base São Paulo, a pesquisa revela que a segunda dose eleva em cerca de 30% a proteção contra a morte, em relação à aplicação da primeira, chegando a uma efetividade de 93,6%. Conduzido por 20 pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Espanha, o estudo Efetividade da vacina ChAdOx1 em adultos mais velhos durante a circulação da variante Gama em São Paulo reforça às autoridades de saúde a necessidade de buscar os idosos faltosos e completar o seu esquema vacinal. 

A pesquisa foi coordenada por Julio Croda, pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul, e busca responder à escassez de dados sobre a efetividade da AstraZeneca na população idosa em países com uma alta prevalência da Gama – variante identificada pela primeira vez em Manaus. Foi escolhido, então, o estado de São Paulo, o mais populoso do país e que atravessou três ondas da epidemia de Covid-19, acumulando mais de 3,89 milhões de casos e 130 mil mortes até 9 de julho. Durante a segunda e a terceira ondas, a variante Gama aumentou sua circulação e chegou a uma prevalência de 80,2% de março a maio deste ano.

“Sabemos que os idosos têm a questão da imunossenescência [alterações do sistema imunológico provocadas pelo envelhecimento], mas essa análise nos maiores de 60 anos mostra que, mesmo no contexto da circulação da Gama, o esquema vacinal completo garante uma boa proteção. Daí a necessidade de buscar os faltosos, encontrar todo mundo que não completou o esquema vacinal e garantir que tomem as duas doses”, ressaltou Croda.

Efetividade

Ensaios clínicos anteriores em outros países já mostravam uma certa queda na efetividade da primeira dose das vacinas contra as novas variantes de preocupação (VOC na sigla em inglês). E essa foi uma das justificativas para a pesquisa no Brasil envolvendo a Gama. 

De 137.744 indivíduos elegíveis para o estudo, 61.164 foram selecionados e submetidos a exame de RT-PCR no chamado teste negativo: que parte de pacientes que testaram positivo para Covid-19 e os compara com pacientes que não testaram positivo. 

A pesquisa mostra que 28 dias após a primeira dose, a efetividade era de 33,4% contra a Covid-19 sintomática, 55,1% contra hospitalização e 61,8% contra a morte entre idosos. Uma nova medição, 14 dias após a segunda dose, mostrou que a efetividade saltava para 77,9% contra a doença sintomática, 87,6% contra a hospitalização e 93,6% contra o óbito. “A conclusão do esquema vacinal da vacina ChAdOx1 [AstraZeneca] confere proteção significativamente aumentada em relação a uma dose apenas contra a Covid-19 branda e grave em indivíduos idosos durante a ampla circulação da variante Gama”, diz o estudo.

Croda lembra que “a efetividade em geral era de 76% com a primeira dose para prevenção de doença sintomática”. “Registramos menos, mas isso é o que está sendo reportado em todo o mundo para as novas variantes, principalmente a Beta, a Gama e a Delta: uma perda de efetividade, de proteção para a forma sintomática [com a primeira dose]”, contou. “A boa notícia é que, com duas doses, essa efetividade é extremamente elevada contra o óbito. Chega a quase 94%. Então, são dados muito positivos, mostrando que a vacina da Fiocruz continua funcionando, inclusive no contexto de uma nova variante, a Gama”, acrescentou. 

O pesquisador também coordenou a pesquisa envolvendo a efetividade da Coronavac em idosos em São Paulo diante da circulação da Gama, publicada em agosto. O trabalho avaliou mais de 55 mil pessoas acima de 70 anos que realizaram teste de RT-PCR para Covid-19 entre 17 de janeiro e 29 de abril de 2021 e mostrou uma efetividade de 61,2% contra óbitos. O pesquisador, no entanto, ressalta que as pesquisas não devem ser comparadas porque o coorte é diferente, com a Coronavac, que começou a ser aplicada antes, sendo usada por pessoas de 80, 90 anos. 

Cenário com a Delta

Os resultados do novo estudo são consistentes com a efetividade reduzida da primeira dose da Pfizer e da AstraZeneca demonstradas no Reino Unido com as novas variantes. “No contexto específico da emergência e disseminação de VOC, programas nacionais deveriam considerar a redução da efetividade da primeira dose contra as variantes de preocupação Gama e Delta nos idosos, junto com limitações de suprimentos de vacinas, velocidade da vacinação e logística ao quantificar os benefícios na estratégia de espaçamento das doses”, diz o texto.

O pesquisador da Fiocruz observa que mesmo diante do avanço da Delta, a vacina da AstraZeneca parece se manter efetiva. “Se houvesse uma mudança, a gente ia verificar um aumento de casos e a aceleração dos óbitos. E não estamos observando isso até o momento. O Rio foi epicentro da Delta, e a tendência é de redução de hospitalização e morte. Acredito que as vacinas continuam funcionando para a Gama e a Delta”, disse Croda. “Ainda temos pouco tempo de circulação da Delta. Precisamos de mais dois ou três meses de predomínio dessa variante para fazer este mesmo tipo de avaliação”.

Participaram do estudo os pesquisadores Matt D.T. Hitchings, Otavio T. Ranzani, Murilo Dorion, Tatiana Lang D’Agostini, Regiane Cardoso de Paula, Olivia Ferreira Pereira de Paula, Edlaine Faria de Moura Villela, Mario Sergio Scaramuzzini Torres, Silvano Barbosa de Oliveira, Wade Schulz, Maria Almiron, Rodrigo Said, Roberto Dias de Oliveira, Patricia Vieira da Silva, Wildo Navegantes de Araújo, Jean Carlo Gorinchteyn, Jason R. Andrews, Derek A.T. Cummings, Albert I. Ko e Julio Croda – os dois últimos do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia) e Fiocruz Mato Grosso do Sul. Os demais integram instituições como a Universidade Flórida, o Instituto Global de Saúde de Barcelona, a Universidade de São Paulo e a Organização Pan-americana da Saúde (Opas), entre outros. 

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