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Narrativas compartilhadas


28/02/2019

Kath Lousada | VPPCB

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PMA estimula práticas de comunicação entre pesquisadores e seus públicos

Criado para fomentar, induzir e gerir redes de pesquisa aplicada na área de saúde pública, o Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção à Saúde (PMA), vinculado à Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB), tem como uma das metas tirar o pesquisador do lugar comum. É desta forma que o programa estimula o pesquisador a pensar em como desenvolver formas de se comunicar com o público-alvo sobre tudo aquilo que está sendo estudado, analisado e apreendido no processo de trabalho. Em outras palavras, trabalhar em conjunto com os pesquisadores para gerar conteúdo e informação, avançando um passo além da entrega de um artigo científico.

O objetivo é fazer com que os resultados das pesquisas sejam apropriados pelos diversos públicos e incorporados tanto às políticas públicas, quanto às realidades de práticas de saúde, contribuindo para a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS). Se o foco do estudo é diabetes na gestação, por exemplo, as mulheres grávidas e os profissionais de saúde gestores locais também deverão conhecer as descobertas em saúde que os pesquisadores fizeram. Atualmente, com 19 projetos distribuídos pelos níveis de atenção à saúde, a Rede integra pesquisas que vão desde a Estratégia de Saúde da Família até o cuidado para o atendimento especializado de um determinado agravo em nível nacional.

“A equipe da Rede aprendeu, com o decorrer dos anos, que há mais chance de os resultados das pesquisas serem incorporados ao sistema ou programa de saúde se eles forem trabalhados de forma conjunta com os profissionais de saúde, gestores, associações e até mesmo com a sociedade civil organizada”, afirma a coordenadora adjunta do PMA, Roberta Goldstein. “Temos como meta que o PMA se torne uma instância na qual o pesquisador que queira trabalhar o processo de disseminação dos resultados da sua pesquisa nos procure, para que juntos possamos discutir formas e conteúdo para apresentação destes resultados em diversas instâncias governamentais e civis”, explica Roberta. 

Experiências 

Movida por este desafio da Rede PMA e pela chance de colocar em prática sua tese de doutorado, Santuzza Vitorino, pesquisadora visitante na Fiocruz, submeteu seu projeto ao edital da Rede PMA em 2015. Para compartilhar os resultados de sua pesquisa com os vários públicos envolvidos, Santuzza promoveu oficinas de monitoramento e avaliação com as 28 unidades de referência técnica da Vigilância Alimentar e Nutricional da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, que representam os 853 municípios do estado.

A pesquisa, coordenada por Marly Marques Cruz, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), trata da avaliação da implantação Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Primária à Saúde no Estado de Minas Gerais. “Nas oficinas, buscamos validar em conjunto um instrumento para trabalhar os dados monitorados, que é um fluxo de trabalho que descreve como a intervenção, no caso da vigilância nutricional e alimentar, deveria funcionar”, explica Santuzza. 

Para a Vigilância Alimentar e Nutricional, o ideal é que seja feito o monitoramento nutricional (peso e altura) e do consumo alimentar em todas as fases da vida das pessoas. Assim seria possível obter um panorama do perfil nutricional da população, identificando, por exemplo, em qual região há mais desnutrição, ou mais obesidade.  “Considerando que hoje a obesidade é um problema que acomete mais de 50% dos adultos, o monitoramento forneceria informações para que o serviço de saúde atendesse e direcionasse melhor o atendimento”, explica Santuzza. 

A pesquisadora aponta, porém, que somente crianças até os 5 anos de idade, gestantes e adultos acompanhados por outras questões de saúde são monitorados no dia a dia. E ainda há outro agravante: a ausência de alimentação de dados no sistema da vigilância, o Sisvan. Os dados coletados durante o atendimento não são informados ao governo. “Depende muito do comprometimento das unidades”, declara a pesquisadora. A oficina de monitoramento e avaliação realizada por Santuzza e mais seis pesquisadores faz parte de um processo de retorno de resultados da pesquisa estimulado pelo PMA, com foco no aperfeiçoamento dos processos para melhorias no SUS. 

A participação na Rede PMA tem impacto direto na ampliação da pesquisa, pois proporciona aprendizado organizacional, na medida em que orienta sobre o funcionamento dos processos de gestão de pesquisas e o compartilhamento das experiências de outros projetos. Santuzza reforça que a entrega de resultados é um diferencial. “A preocupação com a devolutiva dos resultados da pesquisa, não somente para os pares, mas especialmente para os sujeitos envolvidos e a sociedade em geral, já existe, mas esse enfoque é aprofundado pela participação na Rede PMA, especialmente no que e refere ao financiamento da proposta de continuidade da pesquisa do doutorado, sem o qual as devolutivas não teriam a qualidade e aprofundamento que estão tomando”, esclarece. 

Futuro da Segurança Alimentar e Nutricional

Depois do decreto presidencial que extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea*), a preocupação com o comprometimento dos processos de garantia do direito humano à alimentação adequada aumentou. Santuzza destaca que a extinção do Consea pode esvaziar os espaços democráticos para discussão da Segurança Alimentar e Nutricional. “Os reflexos podem atingir os conselhos estaduais e municipais e mostrar o pouco interesse e valor que este governo dá para estas questões e isso pode interferir no alcance dos resultados da pesquisa nas três esferas de gestão, pois uma das utilidades da pesquisa é justamente contribuir para o monitoramento e a avaliação de políticas públicas de SAN.”

*O Consea  desde que foi criado atuou em agendas estratégicas como: inclusão do direito à alimentação na Constituição Federal; defesa dos direitos constitucionais dos povos indígenas e comunidades quilombolas; fortalecimento das culturas alimentares em consonância com os biomas e ecossistemas brasileiros; fortalecimento da agricultura familiar e agroecológica; redução do uso de agrotóxicos; avanço da agenda regulatória, por exemplo, no âmbito da rotulagem de alimentos (transgênicos, ultraprocessados) e da tributação de alimentos e insumos; avanço do código sanitário de forma a torná-lo mais includente e adequado à produção em pequena escala e à comercialização em circuitos curtos, entre tantas outras.
 

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