Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

Início do conteúdo

Colóquio debate a formação em saúde pública na América Latina

Colóquio debate formação em saúde pública na América-Latina (Foto: Virginia Damas)

31/05/2017

Tatiane Vargas e Pedro Leal (Ensp); Talita Rodrigues e Júlia Neves (EPJV)

Compartilhar:

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags/Unasul) e o Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia (Inhem/Cuba) promoveram, de 8 a 10 de maio, o I Colóquio de Latino-Americano de formação em Saúde Pública e III Colóquio Brasil-Cuba de formação em Saúde Pública. Em sua primeira edição, o Colóquio Latino-Americano foi pensado de maneira  abrangente para facilitar não somente o diálogo entre instituições brasileiras e cubanas, mas também incorporar as experiências e os desafios de outras instituições vizinhas, responsáveis pela formação e a qualificação de quadros estratégicos para os sistemas de saúde da região. Durante três dias, professores, dirigentes e alunos de instituições formadoras do Brasil, Cuba e diversos outros países latino-americanos discutiram experiências, oportunidades e desafios relacionados à formação em saúde pública e o papel das instituições formadoras no aprimoramento da governança e da gestão dos serviços, programas e sistemas de saúde regionais.

Antes de dar início as discussões do Colóquio foi realizada uma cerimônia de abertura que contou com a participação dos diretores e coordenadores dos maiores centros e instituições de saúde da América Latina. Estiveram presentes o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde Marco Menezes, o diretor da ENSP Hermano Castro, o diretor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio Paulo Cesar de Castro Ribeiro, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba Lázaro Díaz, a diretora do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde Carina Vance, o vice-diretor do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia (Inhem/Cuba) Disnardo Raúl Pérez, o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos Trabalhadores de Cuba (INSAT) Waldo Díaz, e o decano da Faculdade de Tecnologia da Saúde de Havana/Cuba Antonio Rodríguez.

Na ocasião, Marco Menezes, representando a presidência da Fiocruz, ressaltou a importância da realização do evento para América Latina, principalmente devido ao momento político, no qual a população vem sofrendo enormes perdas de direitos. “Um evento como esse nos ajuda a articular cada vez mais a formação em saúde pública na América Latina. Nos ajuda também a ver e entender a saúde de uma forma mais ampla”, destacou. Para o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba Lázaro Díaz, ampliar o Colóquio Brasil-Cuba foi uma enorme felicidade, pois com uma boa formação em saúde um país pode ser ainda melhor. O vice-diretor do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia (Inhem/Cuba) Disnardo Raúl Pérez, destacou em sua fala durante a cerimônia de abertura a importância do fortalecimento da formação em Saúde Pública.

Para o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos Trabalhadores de Cuba (INSAT) Waldo Díaz, o Colóquio representou uma oportunidade para sabermos qual formação em Saúde Pública queremos, além de conhecer as experiências de outros países irmãos. O decano da Faculdade de Tecnologia da Saúde de Havana/Cuba Antonio Rodríguez avaliou a realização do Colóquio como um momento para harmonizar a formação em Saúde Pública. A diretora do Isags, Carina Vance defendeu a importância de ampliar cada vez mais a participação dos países para uma maior compreensão da Saúde Pública. Em sua fala, o diretor da ENSP Hermano Castro destacou o momento atual do país, de dificuldades econômicas, ataques diários ao SUS, perda de direitos trabalhistas e previdenciários e a importância de, diante desse cenário, formar quadros de saúde que possam lutar e defender o SUS. “Espero que tenhamos discussões ricas durante esses três dias e mais do que isso, que saiam daqui ideias e propostas para o Sistema Único de Saúde, para que avancemos cada vez mais em uma saúde digna para todos”, defendeu Hermano.

Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Foto: Virgínia Damas)

Quem são os sanitaristas latino-americanos hoje em dia?
Um dos destaques do Colóquio foi uma grande pensadora da saúde na América Latina, com reconhecida trajetória acadêmica e na gestão pública, a sueca naturalizada mexicana Asa Cristina Laurell. Em sua apresentação, ela questionou Quem são os sanitaristas latino-americanos da atualidade? Uma visão da medicina social/saúde coletiva. A conferência foi coordenada pelo ex-presidente da Fiocruz e diretor do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz (Cris/Fiocruz), Paulo Buss.

Asa Cristina Laurell dividiu sua fala em alguns tópicos. Citou Mario Testa e os sanitaristas latino-americanos, além de falar da complexidade do campo da saúde; da trajetória da relação contraditória entre saúde pública e medicina social/saúde coletiva; das políticas e práticas institucionais; e da educação em saúde pública no âmbito da saúde coletiva. Segundo ela, Mario Testa afirmava que “os sanitaristas latino-americanos são o grupo de profissionais mais frustrados, porque sabem perfeitamente o que fazer e não são capazes de fazer”. Em seguida, apontou alguns esclarecimentos iniciais, por exemplo, a relação entre medicina social e processos socioeconômicos e as condições de saúde (doença) de classes ou grupos sociais específicos; e a relação direta da saúde coletiva com a construção do Sistema Único de Saúde (SUS).

A sanitarista comentou, ainda, sobre a trajetória de uma relação contraditória entre saúde pública e medicina social/saúde coletiva. Entre os anos 70 e 80, havia uma crítica desenvolvimentista da saúde pública e seu método; posteriormente, houve uma construção própria teórico-metodológica. “Assim, surgiu a premissa da determinação histórico-social do saber, das práticas de saúde e do processo de saúde-doença coletiva e individual”, explicou ela. As políticas e práticas institucionais também estiveram presentes na apresentação de Asa Cristina Laurell. Segundo ela, houve algumas premissas para recuperar a concepção de saúde coletiva/medicina social, entre elas: padrão de acumulação, política econômica, política social em dois eixos: benefícios de salário-emprego e serviços sociais, e política de saúde da política social.

Por fim, Asa Cristina Laurell falou sobre a educação em saúde pública no âmbito da saúde coletiva. De acordo com a médica sanitarista, a saúde pública com enfoque na saúde coletiva/medicina social, tem concepções básicas que modulam o ensino, como as noções de determinação e os processos determinantes, saúde como direito, ética na saúde e ética pública. Ela citou, ainda, os elementos básicos de uma política de saúde, que necessita ter características básicas do sistema de saúde, noções básicas de legislação de saúde, modelos de atenção, além de participação social ativa. Finalizando, Asa Cristina Laurell pontuou também a formação técnica sólida, o conhecimento técnico de práticas comerciais e a questão da liderança.

A íntegra da cobertura do colóquio pode ser conferida no site da Ensp

Confira a íntegra da conferência de Asa Cristina Laurell: 

Voltar ao topoVoltar