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Atenção às pessoas com HIV/Aids na rede de saúde foi tema de debate

02/01/2019

Por: Everton Lima (IFF/Fiocruz)

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No dia 5 de dezembro de 2018, foi realizada a 12ª sessão da Agenda Laranja, olhares complementares na atenção às pessoas vivendo com HIV/AIDS na rede de saúde, no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). A iniciativa, coordenada pelos professores Corina Mendes e Marcos Nascimento, promove desde 2016 a construção de uma cultura institucional voltada ao enfrentamento às várias formas de violência contra mulheres e meninas. A última edição do ano, em consonância com as atividades do Dia Mundial de Combate à AIDS, comemorado anualmente em 1/12, teve como objetivo refletir sobre lacunas e desafios para o cuidado ofertado às pessoas que vivem com HIV/AIDS na rede de atenção à saúde. Para tal, foi convidada para mediar o encontro a professora, cientista social e pesquisadora do IFF/Fiocruz Ivia Maksud, que junto com o professor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Eduardo Alves Melo, coordena a pesquisa O cuidado às pessoas com HIV/AIDS na rede de atenção à saúde.

A gerente de DST/AIDS da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ), Guida Silva, abordou a Atenção ao HIV/AIDS na APS do município do Rio de Janeiro – um balanço dos primeiros cinco anos, apresentando dados para contextualizar a discussão. Guida falou que até o ano de 2012 o número de casos e a taxa de incidência do HIV/AIDS no município do Rio de Janeiro era considerada estável. Mas, a partir de 2013, houve um aumento significativo com a obrigatoriedade da notificação dos casos de HIV positivo. Sobre a taxa de incidência por faixa etária, ela constatou que a maioria dos casos ocorrem, principalmente, entre jovens de 20 a 39 anos. “Até agora nessa faixa a gente só verifica aumento e, nesses últimos anos, uma taxa de crescimento muito acentuada”, observou ela.

Em relação a distribuição por sexo, Guida esclareceu que há alguns anos havia uma relação de dois homens para uma mulher com a incidência do HIV/AIDS, mas, nos últimos anos, a proporção passou a ser de 3,5 casos de homens para 1 mulher. Guida ainda reforçou que são precisos esforços no compartilhamento do cuidado às pessoas vivendo com HIV/AIDS entre a atenção básica e a especializada, alertando que o estigma da AIDS ainda é um tema desafiador.

Como métodos para evitar a infecção por HIV, a gerente mencionou a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), que é o uso preventivo de medicamentos antes da exposição ao vírus do HIV, reduzindo a probabilidade da pessoa se infectar com o vírus, e declarou que a Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP) vem sendo trabalhada em todas as unidades de atenção primária como uma medida de prevenção de urgência por meio de medicamentos antirretrovirais, após um possível contato com o vírus HIV. “O Ministério da Saúde (MS) reforça a questão da prevenção combinada, com foco nas populações-chave e prioritárias, defendendo o direito que as pessoas têm de conhecer todas as formas de prevenção e eleger aquelas que se adequam mais ao estilo de vida, comportamento e gosto pessoal de cada um”, frisou ela.

Na sequência, a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e professora da Pós-Graduação de Saúde Pública da Ensp, Simone Monteiro apresentou o tema Estigma, Aids e reprodução no contexto de serviços especializados, indicando como necessário, portanto, estimular uma reflexão sobre o papel dos serviços de saúde no enfrentamento do estigma que permeia a temática. “São praticamente 40 anos de epidemia de HIV/AIDS, a gente não pode dizer que é falta de conhecimento, pois após várias campanhas educativas e discussões, os estigmas persistem. Eles vão sendo reforçados e atualizados através de uma série de imagens que presenciamos cotidianamente, o que gera situações de afastamento”, explicou ela.


Mariana Cardim e Simone Monteiro (Foto: IFF)

Com a palavra, a gestora da Enfermaria de Doenças Infecciosas Pediátricas (Dipe) do IFF/Fiocruz Mariana Cardim falou sobre o Adoecer e adolescer com HIV/AIDS, apresentando o perfil do Instituto nesse tratamento. Ela relatou que a unidade ambulatorial do IFF/Fiocruz conta com uma equipe multidisciplinar que cuida, hoje, de 112 pacientes que vivem com HIV/AIDS, sendo 75 bebês, 25 crianças e 12 adolescentes expostos ao vírus, em acompanhamento.

Em sua apresentação, Mariana relatou a experiência de adoecimento e cuidado vivenciada por adolescentes de 12 a 18 anos com HIV/AIDS por transmissão vertical, quando as principais vias de contágio são a gestação, o parto e a amamentação, fruto de seu estudo de doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e da Mulher (PPGSCM) do IFF/Fiocruz. “Embora os adolescentes estejam em uma transição para a vida adulta, eles ainda estão bem referidos a um momento infantil, então cabe a utilização do lúdico (representação gráfica) para estimular a colaboração deles em todo o processo e a trazerem uma narrativa mais consistente. Eu acho que esse modelo de genograma pode ser usado, inclusive, para iniciar a consulta em si, e não somente em uma pesquisa. Foi uma etapa interessante e que fez toda a diferença”, revelou ela.

Mariana expôs que para o adolescente todas as questões ligadas ao regime terapêutico no tratamento da AIDS podem impor desafios no processo de assumir um tratamento. Em muitos casos, os adolescentes tomam a medicação sem saber do diagnóstico, pois para os responsáveis esse é um segredo permeado pelo medo, insegurança e culpa. Mariana incentivou que o momento da revelação seja realizado no âmbito familiar, mas, às vezes, a dificuldade é tão grande que os pais solicitam que a revelação seja feita com o apoio dos profissionais de saúde. Após a revelação, a doença e o tratamento passam a ter um nome e todo um impacto advindo desse significado para as pessoas e para a sociedade marcada pelo estigma. Isso vai influenciar na rotina de vida dos pacientes, que têm muitas dúvidas a respeito de projetos futuros, como relacionamento, filhos e emprego.

Dando continuidade, o coordenador da área de Treinamento e Capacitação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), Salvador Campos Corrêa, comentou que ainda hoje, uma pessoa recém-diagnosticada traz o conceito de morte para o diálogo. “Ao descobrir o diagnóstico, um bom atendimento é essencial, pois será importante para que o paciente se sinta acolhido, queira retornar ao serviço de saúde e queira viver, pois a ideia de morte é muito forte”, explicou ele.

Durante sua apresentação, o ativista, gay e portador do vírus HIV frisou que há uma condenação moral e sexual muito forte e que o preconceito ainda está muito presente na sociedade. “Viver com HIV é um efeito fênix, é um renascimento, pois é colocado no fogo todas as suas construções acerca da vida e da morte. Infelizmente, muitas pessoas ainda acabam caindo na depressão”, pontuou. Por outro lado, Salvador ressaltou que a sociedade também tem uma capacidade muito grande de mobilização e de transformação. “É essa solidariedade que a gente precisa resgatar, se unir, dialogar e criar espaços para refletir as ações e garantir uma assistência de qualidade”, concluiu.

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