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Oswaldo Cruz e a teoria do mosquito


As contestações a Oswaldo Cruz não vinham apenas da população. O próprio governo tinha reticências a um pilar importante das ações levadas adiante no front de combate à febre amarela. Nas últimas décadas do século 19, diversos países da América não viam uma saída do atoleiro que a doença representava. Teorias rivais que tentavam explicar a doença disputavam espaço.

A virada se deu na passagem para o século 20, quando a chamada teoria havanesa, proposta por Carlos Finlay, foi referendada por uma comissão norte-americana. Os estudos do cubano apontavam que eram os mosquitos os responsáveis pela transmissão da febre amarela: o inseto extrairia o germe da enfermidade do doente e o inocularia em outra pessoa que, então, a contrairia. Na esteira da chancela da Comissão Reed, em uma investida ousada, Oswaldo Cruz encampou a teoria de Finlay, embora ainda se estivesse longe de sua comprovação absoluta do ponto de vista científico. Não se sabia que espécie de mosquito exatamente transmitia a doença nem qual era o seu agente transmissor, por exemplo.

“Oswaldo Cruz, correndo muito risco, resolver direcionar todo o esforço de combate à febre amarela à luz dessa teoria. A campanha dele vai inclusive ajudar no processo de demonstração de validade dessa teoria”, diz Benchimol. “O [então presidente] Rodrigues Alves acende uma vela para cada lado. Deixa Oswaldo Cruz colocar a teoria havanesa em prática e, ao mesmo, tempo implementa aquilo que os velhos higienistas propunham, que era arrombar a cidade e eliminar todas as fontes possíveis de miasma”, acrescenta o historiador em alusão às reformas urbanas levadas a cabo pelo engenheiro Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro entre 1902 e 1906.

A campanha da febre amarela se organizou em moldes militares. O serviço de profilaxia específico para o combate à doença organizou-se em brigadas. Quando um foco do mosquito era identificado, equipes eram deslocadas. A primeira providência era isolar o doente. O objetivo era quebrar a conexão entre o inseto e o doente. Se o paciente fosse pobre, era levado ao hospital de São Sebastião. Os de classes mais abastadas, por outro lado, desfrutavam de um tratamento diferenciado: imediatamente construía-se ao redor de sua cama uma estrutura de madeira com tela para evitar que o mosquito se infectasse no doente. Calafetava-se a casa inteira, cobria-se o telhado com pano de algodão e jogava-se pó de pireto para matar os mosquitos. Os que sobreviviam eram aniquilados com a queima de enxofre. Outro grupo se encarregava das larvas: aplicavam uma combinação de pireto e querosene na água para mata-las. Nas áreas públicas, o gás Clayton, feito à base de enxofre, era injetado nas canalizações de esgoto.

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Texto adaptado da edição edição nº 37 da Revista de Manguinhos, publicada em maio de 2017.

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