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Manguinhos tem três dias de arte com Agenda Cultural Mandela Vive

Foto de divulgação do evento

25/11/2015

Por: Luiza Gomes (Cooperação Social da Fiocruz)

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Com uma curadoria que encara a arte como instrumento de transformação social quando produzida nas periferias, a Agenda Cultural Mandela Vive – iniciativa do Ecomuseu de Manguinhos, Rede Manguinhos Tem Cultural e Rede CCAP, com apoio da Fiocruz, e Prefeitura do Rio – chega aos últimos dias de sua programação, após um ano de atividades culturais. Entre os dias 26 e 28/11, das 18h às 22h, o calendário de produção e experimentação artística no território de Manguinhos viverá seus momentos finais – e de clímax - com sarau poético, roda de samba, exibição de filmes, exposições, artes plásticas, peças teatrais e lançamentos de livros.

O primeiro dia da etapa final da Agenda, quinta-feira 26/11, será marcado pelo resgate do show de calouros, conhecido como Show do Juvenal, que acontecia em Manguinhos entre as décadas de 50 e 60 com cobertura da Rádio Nacional. “Moradores mais antigos de Manguinhos diziam que o Show do Juvenal integrava as pessoas, divertia e era valorizado como um tipo de cultura produzida pelo próprio território. A proposta de resgatar essa atividade é uma forma de homenagear aqueles que viveram isso, e trazer a memória de um tempo em que a favela carregava a marca da produção de cultura, ao invés da marca da violência”, comenta Flora Almeida, produtora cultural da Rede CCAP.

Na sexta, a 2ª Mostra Cultural de Manguinhos trará apresentações que mesclam samba e teatro, com a roda do Samba de Benfica e convidados, e uma peça sobre o Nelson Mandela. O Baile Literário (28) vai ser o desfecho da Agenda, com programação que vai fundir o funk à literatura.

Haverá atrações de hip hop e discotecagem de funk, coletivos de artes plásticas do território de Manguinhos, sarau poético com espetáculo de luz e som, e o lançamento dos livros do Bando Editorial Favelofágico - editora sem fins lucrativos que conduziu a Residência Literária da Agenda com autores de periferias da cidade em Manguinhos entre julho e setembro deste ano.

Cultura, identidade e território

Quando a Agenda Cultural Mandela Vive foi idealizada pelos coletivos de arte locais e articuladores, em 2013, depois da 1ª Mostra Cultural de Manguinhos, a proposta era que se fizesse uma curadoria que destacasse o caráter contestador das ações empreendidas no âmbito desse calendário de eventos, segundo Felipe Eugênio, coordenador do Ecomuseu de Manguinhos. A base para esse laboratório de criação era o estímulo a uma produção artística com qualidade, mas sensibilizada por duas questões tidas como centrais para a compreensão das assimetrias vividas em territórios de favelas: a desigualdade social e o racismo.

“As comunidades de Manguinhos apresentam um IDH de 0,726, segundo levantamento da Agência Brasil. Semelhante ao de países africanos como Gabão e Argélia. Isso, em uma cidade que é considerada economicamente rica, como o Rio de Janeiro”, destaca. “Por outro lado, identificamos a manutenção da relação desigual entre negros e brancos, praticamente uma continuidade da história da escravidão, só que em tempos de República”, argumentou Felipe, citando casos recentes em que jovens negros são retirados de ônibus vindos de bairros pobres em direção às praias da cidade.

O nome que sintetizava os dois mais marcantes aspectos das feições socioeconômicas da favela, na opinião de Felipe, era o de Nelson Mandela, líder do movimento contra o regime do Apartheid na África do Sul. “Além de termos em Manguinhos três favelas com o nome dele, ele é um ícone não só da resistência ao imperialismo britânico, mas de efetivo combate ao cerceamento de direitos imposto por esse modelo”, explicou.

Na ponte aérea África do Sul-Manguinhos, a dificuldade de acesso dos territórios segregados não se limita apenas à circulação dos indivíduos pela cidade, como grifou Felipe Eugênio, mas embarreira a apropriação de um povo sobre a sua própria história e identidade.

“O engajamento dos artistas nas lutas sociais e políticas acaba refletindo em suas produções, na retratação de seus moradores e do ambiente segundo sua própria ótica. Estimular essa produção é contribuir para que os laços de pertencimento de um povo com relação à sua história e seu lugar sejam fortalecidos”, defendeu José Leonídio Madureira, coordenador da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.

A Agenda teve início em junho com o seminário Literatura no Dente – Favelofagia e outras poéticas políticas, que ocupou auditórios da UERJ durante três dias com discussões sobre obras produções literárias com viés de contestação política e crítica social. O evento contou com a participação do premiado escritor Luiz Ruffato, autor do livro Eles eram muitos cavalos e do dramaturgo de Manguinhos, Geraldo de Andrade, em sua mesa de abertura. O seminário marcou o início da residência Literária conduzida pelo Bando Editorial Favelofágio e que consistiu em um processo de imersão literária com 14 escritores e escritoras de favelas e bairros periféricos da cidade do Rio para produção de contos ficcionais.

O lançamento oficial da Agenda aconteceu em 29/9 com o seminário Literatura ao Pé do Ouvido, que problematizou a acessibilidade à literatura por pessoas com deficiência visual e auditiva, no Museu da Vida da Fiocruz. A culminância de todas as atividades do projeto até então acontece nesta quinta, sexta e sábado, em frente à Biblioteca Parque de Manguinhos, das 18h às 22h, na Avenida Dom Helder Câmara, 1184 (atrás do Colégio Estadual Luiz Carlos da Vila). Conheça a programação.

Veja o vídeo de divulgação:

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