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Gerenciamento ambiental pode ajudar no combate à Leishmaniose visceral


18/08/2017

Fonte: IRR/Fiocruz Minas

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O gerenciamento ambiental e a pulverização química, duas importantes técnicas de combate às leishmanioses, foram foco de um estudo da Fiocruz Minas. Os pesquisadores avaliaram o impacto dessas práticas sobre o Lutzomyia longipalpis, principal transmissor do agente etiológico da leishmaniose visceral, e constaram que ações voltadas para o meio ambiente são mais eficazes no controle do vetor. A pesquisa, realizada em Belo Horizonte (MG), foi publicada recentemente na Acta Tropica, revista científica do grupo Elsevir.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores selecionaram duas regiões da cidade, consideradas áreas de transmissão recente para a leihsmaniose visceral. Ambas as localidades foram divididas em seções, possibilitando delimitar onde seria realizada cada uma das ações, ou seja, manejo ambiental e pulverização química. Além disso, também foi demarcada uma terceira seção, onde não foi feita nenhuma ação.

“Nas duas regiões da cidade, havia casos caninos de leishmaniose visceral, mas não tínhamos registros em humanos. Com isso, sabíamos se tratar de áreas de transmissão recentes e, consequentemente, ainda não teriam recebido medidas de controle, que pudessem influenciar nos resultados. Assim, criamos, nessas duas regiões, três seções, de forma a termos parâmetros de comparação”, explica Fabiana Lara, do Grupo de Taxonomia de flebotomíneos/epidemiologia, diagnóstico e controle das leishmanioses da Fiocruz Minas, que teve este estudo como assunto de sua tese de doutorado, orientada pelo líder do grupo, Edelberto Santos Dias.

Durante dois anos, os pesquisadores acompanharam as ações e monitoraram o efeito delas, colocando armadilhas para a captura de insetos nas regiões onde foram realizados os procedimentos de controle. Nesse período, um total de 1.727 espécimes foram coletadas, sendo 267 nas seções que receberam ações de manejo ambiental, 444 onde ocorreu pulverização química, e 1.016 nas seções em que não houve nenhum tipo de ação. Ou seja, entre as ações propostas pelo estudo, a borrifação apresentou uma tendência a contribuir com a redução de vetores da leishmaniose, mas foi o manejo ambiental que se mostrou mais eficaz estatisticamente.

“Isso, sem dúvida, foi a principal descoberta desse estudo, pois nos leva a crer que a modificação ambiental, com a eliminação das condições propícias para o desenvolvimento da fase larvária do vetor, é crucial para o controle da doença”, afirma Fabiana.

Reprodução afetada
As ações de manejo ambiental foram realizadas em colaboração com as equipes da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e incluíram remoção de matéria orgânica, poda de árvores nos quintais aumentando a área ensolarada, limpeza e manejo de instalação de abrigos de animais domésticos, como galinheiros. De acordo com Fabiana, tais medidas interferem no ciclo reprodutivo do Lutzomyia longipalpis, que, para se reproduzir, precisa de locais úmidos e sem incidência direta de luz solar, além de matéria orgânica para o desenvolvimento dos estágios larvais.

“Quintais com galinheiros, canis e outros animais domésticos, bem como a presença de árvores frutíferas e que favorecem o sombreamento, são ambientes propícios para a reprodução dos flebotomíneos. Estes são insetos que se desenvolvem em matéria orgânica, ao contrário dos mosquitos, que se desenvolvem em meio aquático. O combate tem foco na vida adulta do vetor, uma vez que é muito difícil encontrar as larvas no solo”, explica Fabiana.

Toda a pesquisa contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, que, além de atuar no gerenciamento ambiental por meio da SLU, cedeu agentes da Secretaria Municipal de Saúde para a realização da pulverização química e do manejo ambiental. Também foram distribuídos materiais educativos para a população, com orientações sobre a doença.

“Fica claro com este estudo, que o controle da leishmaniose tem a ver com a mudança de comportamento das pessoas e, por isso, as ações educativas devem vir associadas às outras medidas”, diz Fabiana. “O ideal mesmo é que as atividades voltadas para o controle sejam empregadas de maneira integrada, de forma que uma complemente a outra”, destaca.

Situação
Belo Horizonte é considerada região endêmica para a leishmaniose visceral. Em estudo anterior, também realizado pelo mesmo grupo de pesquisa da Fiocruz Minas, foi verificado que 97% dos espécimes de flebotomíneos capturados nos bairros do estudo durante dois anos, foram pertencentes à espécie Lutzomyia longipalpis e que, do total de insetos estudados, foi encontrado o DNA de Leishmania infantum, agente etiológico da leishmaniose visceral, em 17% dos exemplares desta espécie.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos, o número de casos de leishmaniose visceral reduziu 9%, passando de 3.597 registros em 2005 para 3.289 em 2015. A região Nordeste registrou o maior número de notificações (1.806); seguida pelas regiões Sudeste (538); Norte (469); Centro-Oeste (157) e Sul (5).

A leishmaniose visceral é caracterizada, principalmente, por febre de longa duração, aumento do fígado e baço, além de perda de peso acentuada. O Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde, atua no controle das leishmanioses, com foco em áreas de maior risco. Essas ações envolvem vigilância de casos humanos, que compreende a realização do diagnóstico e tratamento dos mesmos, combate vetorial com uso de inseticida e eutanásia de reservatórios domésticos (cães) infectados, tendo além dessas medidas a vigilância epidemiológica.

Aos primeiros sintomas, pessoas residentes em áreas endêmicas de leishmaniose devem procurar o serviço de saúde mais próximo. O Sistema Único de Saúde oferece diagnóstico e tratamento gratuito para a população contra as duas doenças. O tratamento é feito com uso de medicamentos específicos.

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