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Em nova fase, 'Eliminar a dengue' amplia área de atuação em Niterói (RJ)


27/12/2016

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Por Renata Pomposelli (Projeto Eliminar a Dengue)

O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil entra agora em fase de expansão, chegando aos bairros de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira, todos em Niterói, no Rio de Janeiro, onde vivem cerca de 20 mil pessoas. O projeto propõe uma abordagem inovadora para reduzir a transmissão dos vírus da dengue, do zika e da chikungunya, por meio da liberação do mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia. O método utilizado é natural, seguro e sem qualquer risco para as pessoas, os animais e o meio ambiente. O projeto faz parte de uma iniciativa internacional, o programa Eliminate Dengue: Our Challenge, sem fins lucrativos, que é conduzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Projetos-piloto               

Entre agosto de 2015 e janeiro de 2016 foram realizados os projetos-piloto em Tubiacanga, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, e Jurujuba, em Niterói. Nestes bairros foram liberados os Aedes aegypti com Wolbachia, a bactéria que inserida no Aedes aegypti reduz a capacidade de transmissão da dengue, do zika e da chikungunya pelo mosquito. Até o momento, nessas áreas dos projetos-piloto, cerca de 80% da população de Aedes aegypti possui a bactéria Wolbachia, um resultado considerado, pela equipe do projeto, como satisfatório e muito positivo.

O objetivo do projeto é substituir, gradualmente, toda a população de Aedes aegypti de campo pelos mosquitos com a bactéria. Isso acontece através do cruzamento dos Aedes aegypti, na medida em que a bactéria é passada naturalmente da fêmea para os filhotes, que já nascem com a Wolbachia. Esse processo garante a autossustentabilidade do método (confira o esquema abaixo).

O programa iniciado na Austrália vem obtendo grande êxito há mais de cinco anos. Projetos-piloto também foram realizados na Colômbia, na Indonésia e no Vietnã. Essa iniciativa não utiliza nenhum tipo de modificação genética.

Em março de 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) através de seu Comitê de Controle Vetorial (Vector Control Advisory Group - VCAG) revisou as opções de controle vetorial de mosquitos em resposta à epidemia internacional de zika e emitiu uma declaração recomendando a expansão em larga escala do método com Wolbachia do programa internacional  Eliminate Dengue: Our Challenge.

Fase de expansão

A nova fase do Eliminar a Dengue: Desafio Brasil começa agora no início de 2017, com a participação de uma equipe multidisciplinar e de especialistas, reestruturada para atender a todas as necessidades da expansão em larga escala, com cerca de 60 profissionais na Fiocruz. O projeto possui quatro atividades principais:

1. A comunicação do projeto;

2. O engajamento comunitário;

3. A liberação dos mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia;

4. O monitoramento, para verificação da presença de Wolbachia na população de mosquitos.

Em janeiro de 2017, as equipes de comunicação e de engajamento comunitário começam a trabalhar para informar a população sobre as liberações de Aedes aegypti com a Wolbachia nos quatro bairros de Niterói. Após o engajamento da população, serão feiras as liberações dos Aedes com Wolbachia seguido do período de monitoramento para a verificação da presença de Wolbachia na população de mosquitos que deve perdurar por alguns meses.

A escolha de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira dará continuidade ao processo iniciado em Jurujuba. Em seguida, a fase de expansão do projeto chegará, ainda em 2017, a outros bairros de região de Praia de Baía e da Região Oceânica de Niterói, além de áreas do município do Rio de Janeiro.

“Não é só liberar os Aedes aegypti com Wolbachia. Fazemos todo um processo de engajamento antes, de informação e conscientização com a população. Os resultados estão mostrando o grande sucesso dessa iniciativa”, completa Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e coordenador geral do Projeto no Brasil.

Durante a fase de expansão serão conduzidas avaliações epidemiológicas das arboviroses circulantes, em parceria com os municípios, na tentativa de verificar o impacto da liberação dos mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia na redução do número de casos das doenças transmitidas pelo mosquito.

Metodologias de liberação

Luciano Moreira explica que dois métodos de liberação de mosquitos Aedes aegypti com a Wolbachia vem sendo utilizados desde os projetos-piloto em Tubiacanga e Jurujuba. O primeiro é a liberação de mosquitos adultos diretamente em vias públicas. O segundo é a criação de Aedes com Wolbachia, através do Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO), um recipiente fechado onde os mosquitos se desenvolvem. Os DLOs são colocados em áreas públicas ou em propriedades particulares de pessoas dos bairros que colaboram com a iniciativa, chamados “anfitriões” do projeto. No interior do DLO há ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento para as larvas que vão nascer. Cerca de sete a dez dias após a instalação, os mosquitos já estarão adultos e voarão para fora do recipiente por meio dos furos.

De acordo com o pesquisador, o uso dos dois métodos é parte da busca por metodologias de liberação que sejam ao mesmo tempo mais eficazes e de melhor custo x benefício. “Devido à diversidade de características das cidades brasileiras, em termos de estrutura urbana e ambiental, escolheremos a melhor estratégia para cada área a ser trabalhada. É importante ressaltar que o DLO não possui produtos químicos ou tóxicos”, explicou.

Informações sobre o Projeto estão disponíveis para o público na Internet, em www.fiocruz.br/eliminaradengue. Para mais informações ou esclarecimento de dúvidas o contato pode ser feito através do e-mail eliminaradengue@fiocruz.br e pelos telefones (21) 3882-9265 e 99643-4805, inclusive com ligações a cobrar, de segunda a sexta-feira, nos horários das 9h às 17h.

Aprovações regulatórias

Os projetos-piloto no Brasil foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) após rigorosa avaliação sobre a segurança para saúde e para o meio ambiente.

A expansão em larga escala foi aprovada recentemente pela Conep também após rigorosa avaliação sobre a segurança para a saúde.

Financiamentos e Parcerias

No Brasil, o projeto tem financiamento da Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) e Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (DECIT/SCTIE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do CNPq e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro atuam como parceiros locais na implantação do Projeto, fornecendo contrapartida de pessoal e logística. O financiamento internacional inclui verba da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash na Austrália e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

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