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Comitiva da Índia visita a Fiocruz visando cooperação com Bancos de Leite Humano


02/07/2015

Por: Raíza Tourinho (Icict/Fiocruz)

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Dois em cada 10 bebês que nascem no mundo são indianos: são 27 milhões de bebês a cada ano. Destes, 572 mil nascem mortos e 758 mil não completam o primeiro mês de vida, o maior índice de óbito neonatal do mundo, representando 30% da carga global.  A taxa de 29 mortes por mil nascidos vivos é quase o dobro da do Brasil (de 15 óbitos por mil). Os números astronômicos são compatíveis com a ambiciosa meta que o governo indiano traça para reduzir os óbitos neonatais: zerar o índice de mortalidade neonatal evitável até 2030, reduzindo a taxa geral a uma casa decimal (9 por 1.000).

Os dados e a estratégia do Plano de Ação Todos os Recém-Nascidos (Every Newborn Action Plan) foram apresentados pelo Dr. Ashok Kumar Deorari, professor de pediatria do Centro de Educação e Pesquisa em Cuidados Neonatais (Centre for Education & Research in Newborn Care), instituição em Nova Délhi colaboradora da Organização Mundial da Saúde. Deodari fez parte de uma missão da Índia que visitou a Fiocruz, na semana de 22 de junho a 2 de julho, interessada em estabelecer um projeto de cooperação com a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-Br).

A comitiva foi composta por neonatologistas e profissionais de banco de leite humano do país (além de Ashok, Umesh Vidyadhar Vaidya, Jayashree Mondkar, Amrita Nandkumar), apoiadores da iniciativa como membros da ONG Path na Índia (Ruchika Chugh Sachdeva), nos Estados Unidos (Kimberly Amundson e Kirsteen Ballard) e Brasil (Sérgio Segall), e a secretária da associação europeia de bancos de leite humano, Anne Grovslein. Eles visitaram a Fiocruz na tarde da segunda-feira, após uma manhã de apresentações no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). A delegação foi recebida por toda a equipe do Centro de Referência Nacional em Bancos de Leite Humano, apresentada pelo coordenador da Rede Brasileira e o Programa Ibero-americano de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR / IberBLH), João Aprígio Guerra de Almeida.

Visita

Foi com admiração e muita curiosidade que os representantes indianos, guiados pela gerente do Centro de Referência para Bancos de Leite Humano do IFF, Danielle Silva, visitaram a seção de Obras Raras, situado no Castelo da Fiocruz, e foram apresentados aos projetos e acervo bibliográfico do Icict. O diretor da unidade, Umberto Trigueiros, e a chefe da Gestão de Acervos da Biblioteca de Manguinhos, Mônica Garcia, tiraram dúvidas dos representantes indianos e conduziram uma visita guiada pela Biblioteca de Manguinhos.

Na segunda-feira, eles ainda conheceram o posto de coleta de leite humano da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e durante a semana eles visitaram bancos de leite de diversos portes no estado do Rio de Janeiro, além de verificar de perto o funcionamento do centro de referência.  “Estamos muito gratos por ter esta oportunidade”, afirmou o neonatologista do KEM Hospital, em Pune, Umesh Vidyadhar Vaidya. Deodari também se mostrou satisfeito com a visita. “Estou muito feliz em vir para o Brasil para aprender com vocês”, declarou.

As chances que a parceira se concretize são altas. “Levaremos as melhores práticas para a Índia. Se não formos o primeiro país do mundo em Bancos de Leite Humano, seremos o segundo, com a ajuda de vocês”, disse Jayashree Mondkar. Atualmente, a Índia possui 20 BLHs em detrimento dos 213 em funcionamento no Brasil.

Caso brasileiro

Fornecer leite humano é considerado uma estratégia essencial para reduzir os índices de mortalidade neonatal no país. A necessidade de se aprofundar no modelo brasileiro ocorre porque a tecnologia desenvolvida no Brasil alia baixo custo à alta qualidade e é perfeitamente ajustável para países com altos índices de pobreza como a Índia.

No início dos anos 2000, a taxa brasileira era equivalente a indiana, beirando aos 30 óbitos por mil nascidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Rede de Bancos de Leite Humano como uma das ações que mais contribuíram para redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990. De 1990 a 2012, a taxa de mortalidade infantil no Brasil reduziu 70,5%.

O Brasil começou a se tornar referência mundial e tecer a que é hoje a maior e mais complexa rede bancos de leite humano há dez anos, quando firmou acordo de cooperação com 23 países e começou a implantar os dois primeiros bancos fora do país, na Venezuela.

Atualmente, a rede é o maior projeto de cooperação internacional do Ministério da Saúde, reconhecida pelas Agências das Nações Unidas como um exemplo de êxito na cooperação sul-sul, e é um caso pioneiro de cooperação sul-norte, visto que se estende aos países da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Além da Europa, a rBLH possui 279 bancos de leite em países da África, América Latina e Caribe, beneficiando mais de 1 milhão de recém-nascidos.

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